Igreja de Nossa Senhora da Consolação

 

                 


A sua história

"Templo de modestas dimensões, quase escondida ali no extremo ocidental do Largo da República, a Igreja Paroquial de Agualva tem para contar um passado de mais de quatro séculos e, apesar das alterações sofridas no decurso dos tempos, merece uma visita atenta e interessada. 

A data da sua fundação continua a ser ignorada, mas calcula-se que se situe na primeira metade do século XVI. A notícia mais remota sobre a sua existência é datada de 1570 e surge no testamento de um lavrador de nome Fernão Lourenço, morador no Suímo, que legou mil réis para as camas dos pobres de Nossa Senhora de Agualva. Essa referência comprova que nessa altura já existia uma albergaria ou hospital, como então se chamava. Aliás, em 1592, a 7 de Julho, os Livros de Óbitos de Belas registam o falecimento de André Fernandes, o albergueiro de Nossa Senhora da Consolação de Agualva. Em 1594, a capela estava a cargo da Irmandande de Nossa Senhora da Consolação, cujo compromisso foi feito nessa data. 
A Mesa da Irmandade, constituída por seis oficiais (presidente, juiz, tesoureiro, escrivão e dois procuradores) era eleita anualmente em Cabido Maior (reunião de todos os irmãos), que se realizava em Setembro. Nesse dia era celebrada uma missa cantada e havia um jantar para os Irmãos. Em Novembro, geralmente no primeiro Domingo depois da Festa de Todos-os-Santos, efectuava-se uma procissão. Além destas cerimónias religiosas, a Irmandade tratava dos enterros e do seu acompanhamento até à Igreja Matriz de Belas.
Em 1607, a Irmandade mandou fazer uma cruz de prata "para servir na casa de Nossa Senhora e acompanhar irmãos que falecessem", mas decidiu desde logo que essa cruz não serviria em Belas. Cabe aqui dizer que, actualmente, entre as alfaias religiosas da Igreja de Belas, se conta uma cruz processional de prata, do século XVII, que bem poderá ser a que os confrades de Agualva não queriam ver deslocada.
Por todo o século XVII há notícias da capela e albergaria de Nossa Senhora da Consolação mas, ao iniciar-se o século XVIII, "estava esquecida a devoção e quase extinta e Irmandade", pelo que os Irmãos solicitaram uma autorização para efectuar uma feira, no terreiro junto à ermida, pois com as esmolas e as receitas do terreno poderiam restaurar o velho templo. Em 1720, D. João V concedia o alvará para a feira de Agualva-Jarda. 

Em 1726, beneficiou a Irmandade de nova fonte de receita, pois o irmão José Ramos da Silva, pai de Matias Aires, dotou-a com uma côngrua de cento e vinte mil réis anuais, perpétuos. Logo no ano seguinte, teve a honra de receber um breve de indulgências expedido pelo Papa Benedito XIII. Durante o século de Setecentos, a Irmandade conheceu grande prestígio e influência em Agualva e arredores. Efectuaram-se diversos melhoramentos na capela, destacando-se a colocação de vários painéis de azulejos, comprados na Fábrica Real do Rato, em 1787. Decoravam a capela-mor e o lado do Evangelho um total de 4.665 azulejos, quer pintados a azul e branco quer polícromos. 

No século XIX, não há notícia de qualquer facto notável relacionado com a capela, tão-pouco se sabe se teria sido nesse período de tempo que desapareceu a antiga imagem de Nossa Senhora da Consolação. 

Em 1905, um relâmpago danificou o secular templo que foi reparado à custa de esmolas e, curiosamente, a dádiva mais avultada foi de um judeu. 

Com a implantação da República, em 1910, sobreveio a profanação e o abandono. Projectava-se demolir a capela e adaptá-la a escola, o que só não veio a acontecer graças aos enérgicos protestos de alguns paroquianos, entre eles Joaquim Guilherme da Costa Caldas, que hoje tem uma rua com o seu nome. Nessa época, algumas imagens e objectos de culto foram levados para Belas. No ano de 1916, soldados do Corpo Expedicionário Português, aquartelados na Quinta da Fidalga, usaram a capela como enfermaria, depois de terem entrado por arrombamento da janela que dá para o Largo da República. 

Em 1918, foram arrancados os painéis de azulejos e vendidos em leilão por doze contos, sendo necessária a intervenção da GNR para manter a ordem entre a população que se via, assim, espoliada de preciosa parte do seu património histórico. 

Entre 1930 e 1940, foram realizadas obras de recuperação na depauperada capela, sendo colocado o altar-mor barroco proveniente do Convento das Trinas. Nos anos 50, foram efectuadas novas obras de restauro e embelezamento. 

A 25 de Setembro de 1960 era criada a Paróquia de Agualva-Cacém." 

(Fonte:"Agualva-Cacém e a sua história", de Ana Macedo e Sousa e Teresa Mascarenhas)